APENAS DOIS REAIS


Depois da aula vou direto para o trabalho, sem paradas. Porém, hoje acabei dando carona para o Caio, um colega de faculdade que ficou sem transporte. Não gosto de dar carona a esta hora, mas como estava chovendo abri uma exceção.

Além do mais acho ele bem gostosinho, apesar de nunca termos nos aproximado muito. Sei que ele curte outros caras, mas tenta ser bem discreto. Caio não é muito musculoso, magro ou gordo, tem um corpo padrãozinho. Ele tem uma pinta de playboy, com uma barba rala feita em barbeiro, cabelo no gel, e roupas simples, onde o Rolex niquelado se destaca.

Meu colega entrou no meu carro sem cerimônias, pegou minhas coisas do banco da frente e colocou no colo. Depois de cinco minutos de silêncio tentou puxar assunto com algo que não fosse da faculdade.

- Nossa, Gomes, você usa máscara de gás para trabalhar? E essas roupas de couro, que estranho, algo tipo motoqueiro.

Fiquei muito irritado quando vi que ele estava revirando minhas coisas como se fosse uma arara num brechó. Para algumas ele dava um risinho de desdém e outras deixava claro que não fazia ideia do que era, mas preferia a ignorância.

- Eu sou sócio e trabalho como barman num crusing bar sadomasoquista. Paga melhor que qualquer outro lugar. E não mexe nas minhas coisas.

Meu pedido foi em vão. Depois de jogá-las sem o menor cuidado para trás ele abriu a mochila com a mesma intimidade que ele devia abrir a própria gaveta de cuecas. Aquilo me irritava junto com os comentários que ele cacarejava.

- Sadomasoquista? Você quer dizer tipo “Cinquenta tons de cinza”, parece engraçado. Sabe, eu até tenho curiosidade de experimentar, mas nada com dor, tapa na cara ou muito pesado, mais coisas como um tapinha na bunda ou vendar os olhos, sabe, parece divertido.

Preferi não explicar nada para o Caio, seria melhor. Mas mesmo assim ele continuou. Não sei se ele sabia que estava me irritando e fazia de propósito ou se simplesmente me ignorava e continuava porque para ele era tudo muito engraçado.

-Caralho, você tem absinto, e todas estas bebidas importadas! Nunca tomei. Posso experimentar?

Ele já estava passando dos limites, mas apesar de estarmos a duas quadras da casa dele mudei completamente de ideia.

- Isso chegou hoje. é pro bar. Então porque não vamos lá e você experimenta ali mesmo? Não fica longe da sua casa então você pode chamar um Uber que vai sair baratinho ou quem sabe você encontra alguém interessante para esta sexta? Só tira essa pollo cor de rosa e fica tranquilo que dá para entrar sem camisa.


Entramos pelos fundos, coloquei rapidamente meu uniforme de látex com máscara de gás e fui assumir o bar. Apesar da minha pressa eu estava adiantado, mas queria me livrar logo daquela péssima companhia.

A casa estava cheia e o trabalho não parava, foi ótimo para me distrair até que Caio retornou pedindo duas doses do absinto e tentou puxar conversa comigo sobre o Big Brother. Mas desta vez eu tinha como ignora-lo até ele me dar mais um motivo para me irritar.



- Coloca meu IPhone pra carregar, para eu chamar um Uber. E onde fica a área de não fumantes? Sabe, que lugar escroto, cara. Só tem velho ou cara estranho. Todo mundo fuma charuto e deixa essa fumaça horrorosa. Os caras ficam se batendo e se agarrando como bichos, são mal-educados e os gogo boy são tudo tatuado. Quando fui ao banheiro tinha um cara bebendo o xixi do outro e dois batendo punheta vendo isso. Nem quero ver como é o dark room. Como você aguenta trabalhar aqui, meu?


Eu quis responder e para isso estava procurando a forma mais grosseira de formular as frases. Estava puto com a insolência de Caio e com as frescuras dele. O boy até podia ser bonitinho, mas era um tremendo de um baunilha. Além disso era um preguiçoso que sempre se metia no meu grupo de trabalho para não fazer absolutamente nada. Só sabia pedir as coisas, não agradecia e ainda reclamava. Procurei com toda minha raiva a forma mais pejorativa de jogar isso na cara dele, mas fui interrompido.

- Quanto é o especial de hoje. Eu acho que vou levar se não for muito caro.

Quem me perguntava era o Dom Cosme, um dos nossos clientes mais tradicionais. Era um homem gordo, branco e peludo, de pequenos olhos verdes, com uma barba de dar inveja e um erótico sotaque português. Ele tinha fama de treinador severo e pervertido que não correspondia sequer a metade de tudo que ele já havia feito.


- É dois reais.

Ele olhou para mim, tirou duas notas da carteira e as colocou no balcão. Peguei a quantia que anunciei e lhe entreguei um charuto preto e devolvi a nota com a arara estampada.

- Eu disse dois reais, não doze.

Ele pareceu confuso enquanto cortava a ponta do charuto e procurava um isqueiro para acende-lo. Ele ficou desconfiado pelo baixo preço e me perguntou se eu não estava enganado já que só o charuto era mais de duzentos.

- Não sei se você reparou, mas não é uma mercadoria qualquer ele tem...

- É esse preço mesmo, dois reais. Apenas. E o senhor sabe que não fazemos devoluções.

Dom Cosme tem a incrível habilidade de entender as mensagens ocultas que o corpo deixa para trás. Ele abriu um sorriso maligno para mim enquanto eu estendia o fogo para que ele pudesse dar as primeiras tragadas.

Já bastante entediado Caio se debruçou no balcão molhado me pedindo para ver se seu celular já tinha carregado. Mas Dom Cosme agarrou o maxilar do playboy com violência e cuspiu uma longa e espeça nuvem de fumaça dentro da garganta dele através de um beijo brutal.


Nos primeiros segundos o jovem tentou se debater, com os olhos se movendo freneticamente em busca de alguma ajuda, mas paralisado pelo pavor. Não foi difícil ele aprender que lutar era inútil e finalmente se entregar enquanto seu cérebro derretia. Sem forças ele caiu de joelhos no chão, bem na frente de Dom Cosme, enquanto, sem controle, começou a se mijar e logo em seguida gozar espontaneamente.


O urso português, tirou seu pau grosso pelo lado direito da jockstrap de couro. Ele era aparentemente curto pela desproporção entre a grossura e o comprimento que só parecia um pouco mais longo pelo piercing que tinha na ponta e que era tão grande quanto a própria glande.


Era óbvio que Dom Cosme queria um boquete, o que teria sido humanamente impossível se ele não tivesse deslocado o maxilar de Caio, algo que até doeria se ele não tivesse completamente chapado. Tanto pela fumaça que o gordão ainda baforava sobre ele como pelo cheiro dos pentelhos e do próprio sexo que o invadia.

Não é qualquer um que chupa o Dom Cosme daquele jeito e por isso que a situação incomum criou uma pequena plateia de curiosos e punheteiros que além do espetáculo não se furtavam de me fazer pedidos no bar.

A apoteose veio com a ejaculação do urso português. A garganta de Caio teve que dobrar de tamanho em desespero para comportar todo o mingau branco que mesmo assim não foi capaz de comportar todo leite masculino deixando uma boa quantidade cair sobre os coturnos novos do Dom.


A insolência não ficou impune. O playboy foi deitado, sem calças e de bruços no colo de seu algoz que começou a castiga-lo com furiosas palmadas. O espaço entre uma e outra era longo, mas elas eram fortes e brutais. Assim, as nádegas de Caio passaram de brancas para rosa, e para vermelhas, foram ficando cor de vinho para acabarem completamente roxas.

- Dois reais para foder a boca ou o cu desse puto malcriado.

O anuncio de Dom Cosme fez uma pequena fila na frente e atrás de Caio. Quem estava nela não queria agradar o playboy universitário ou sequer sentir prazer, estavam curiosos para ver o que mais que aquele mestre podia fazer com o que sobrou do garoto que aos poucos ficava encharcado de porra.


As baforadas de charuto e o poppers ajudavam Caio a se desprender da realidade enquanto o macho português agarrava seu cabelo e forçava a cabeça dele mais fundo que possível contra os pentelhos de um novo estranho.

Depois de algumas duplas Dom Cosme juntou o dinheiro desleixadamente em um punho só e jogou no balcão e me pediu tranquilamente com uma voz paternal, um pote de lubrificante sintético e uma luva de látex. O pedido deixou todos nervosos no salão. E mais animados ainda quando ouviram o estalar das luvas ao calçarem as mãos do ursão.


Muitos até duvidavam que ele conseguisse enfiar sequer os dedos em Caio, pois cada braço do Dom Cosme é da grossura de um cone de trânsito. Mas ele provou que com bastante fumaça de charuto, poppers, lubrificantes, porra e um delicado movimento de mandril era fácil enfiar qualquer coisa naquele rapaz submisso que já não parava mais de ejacular.

A cena era intensa, inundada de gemidos e gozadas de um macho hipnotizado. Todos observavam calados e atentos o Dom Cosme mostrando como era possível fazer daquilo um espetáculo até que ele parou vagarosamente e falou com uma doçura paternal:

- Vamos precisar de um enfermeiro.

Apesar de toda a bagunça e do pequeno incidente tudo terminou bem e foi assunto do bar durante todo o final de semana, deixando aqueles que estiveram ausentes arrependidos de perder um show tão raro.

Uma semana depois Caio voltou às aulas. Agora ele era completamente apático, uma casca vazia que se prostituía nos banheiros por apenas dois reais e sem um pingo de vontade própria. Já tinha ouvido falar coisas horríveis do Dom Cosme, mas não pensei que pudesse ser tudo verdade até ver com meus próprios olhos.


Naquela semana o ursão português estava no bar com seu aprendiz de dominador, que também devia estar abusando do Caio, e um belo Rolex niquelado no punho esquerdo.


Eu deveria ter cobrado mais pelo Rolex.  


Mestre Borges


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