Quinta da Disciplina - RACK

Conforme disse na primeira Quinta da Disciplina, as relações BDSM devem ser baseadas no SSC (Seguro, São, e Consensual). Mas se você reconhece que os dois primeiros termos desta sigla são inconsistentes e amplos então já deve ter percebido que não lhe contei tudo ou pode até ser que você seja adepto do RACK.

Então ponha-se de joelhos que estamos começando a quinta da disciplina.

RACK é uma filosofia dentro do BDSM que trata de aceitar as práticas “menos convencionais” sabendo que elas têm seus riscos. O termo foi cunhado em 1999 por Gary Switch, como um contraponto à imagem irreal que o SSC oferecia do BDSM. Rack é um acrônimo que significa  

Risk-aware (Riscos Reconhecidos): Todos os envolvidos sabem dos riscos envolvidos.

Consensual: Ambas as partes estão dispostas a se arriscar nas práticas propostas.

Kink (sexo pervertido): Estas práticas envolvem sexo não convencional.

Assumir que os riscos existem é a melhor forma de estar pronto para eles. Para os adeptos do RACK a ideia de segurança do SSC está errada por dois pontos. Primeiro, pelos riscos sempre existem, tanto no cotidiano como principalmente nas práticas BDSM e assumir que eles existem deveria ser primordial para estar pronto para eles. No segundo ponto, o termo segurança do SSC pode ser interpretado como um excesso de zelo, passando a falsa impressão que todas as práticas são apenas uma simulação ou fantasia, versões inofensivas do que elas realmente são.

Outra divergência é quanto as práticas BDSM serem sãs. Se elas foram acordadas entre duas ou mais pessoas em pleno gozo de todas as suas faculdades mentais então todas as práticas já são sãs a partir do momento que são consensuais. Além disso o conceito de uma prática sã pode ser muito subjetivo, variando entre indivíduos.

A falta de um termo que associe o SSC ao BDSM, em específico às suas práticas sexuais fora do convencional, faz com que ele possa ser usado em muitos outros contextos, perdendo muito significado. Poderíamos falar de uso de drogas São Seguro e Consensual, em caronas sãs seguras e consensuais, acordos comerciais sãos seguros e consensuais… Logo o SSC pode ser empregado em várias situações, pois não possui um termo que o limite. E esta é a função do termo kink, que não tem uma tradução exata para o português, mas se refere ao sexo pervertido, às taras fora do convencional.

Os críticos do RACK reconhecem sua função em corrigir a grande abrangência do SSC, mas o criticam por ele abrir outras portas que colocam em risco a comunidade BDSM. Práticas como bareback ou castração podem ser incluídas desde que os envolvidos saibam como proceder caso peguem uma Infecções Sexualmente Transmissíveis ou como realizar os procedimentos médicos adequados. Se estas e outras práticas que podem levar a problemas de saúde pública forem associadas à comunidade BDSM ela pode enfrentar problemas sérios e até ser criminalizada.

Apesar de serem dispostas como antagônicas as duas filosofias não se anulam completamente, na verdade, podemos dizer até que se completam, tornando difícil que alguém com muitas vivências BDSM possa ser enquadrado como pertencente exclusivamente a uma delas.

Porém, para a comunidade baunilha, que considera a Tiazinha o símbolo máximo do sadomasoquismo, é melhor apresentar apenas o SSC já que eles não estão dispostos a ter as experiências necessárias para entender o real sentido do RACK

Esta foi a quinta da disciplina. Pode levantar e esteja pronto para prova.

Mestre Borges