A CARGA

Bud não dormia há 20 horas. Ele acreditou que conhecia o caminho, mas quando verificou o endereço de sua entrega e comparou com o GPS percebeu que estava há dois dias no caminho errado. Agora ele tinha que correr contra o tempo em uma estrada desconhecida para não ser multado pelo atraso da entrega da carga.


Mas que merda de estrada era aquela. Fora as marcações horizontais tinham poucas placas e apenas algumas luzes distantes. Não tinham postos de gasolina, motéis, entradas de fazenda ou sequer animais na pista e o rádio emitia um ruído constante e monótono.

As linhas indo em sua direção uma depois da outra em velocidade constante, sempre uma, um espaço e depois outra, sempre repetindo em sua direção. O som do rádio tinha um chiado constante parecia uma voz, mas não dava para entender a menos que se prestasse muita atenção. A transmissão se repetia varias vezes, lenta, mas confortável e mesmo assim sem poder ser entendida.

Bud até lutava contra o sono, tinha usado drogas para não dormir para isso, mas parecia cada vez mais difícil. Sua mente se acostumou com as repetições e uma baba transparente já escorria de sua boca enquanto seus olhos insistiam em se fechar, seu corpo estava leve e ele não conseguia pensar em mais nada... até que sua mente apagou embalada pela monotonia.

Bud acordou às cinco da manhã na cama de um motel sem se lembrar de como havia chegado lá. O caminhoneiro se sentia leve e relaxado, porém cansado. Assim que olhou seu celular viu que tinha perdido oito horas de viagem dormindo e agora teria que dirigir mais doze horas se quisesse chegar ao seu destino a tempo.


Ele tomou um café rápido na recepção, subiu em seu caminhão Scania e voltou para a estrada. Da mesma forma que na noite anterior ela continuava lenta e monótona, mas agora Bud também estava exausto muito cansado.

Ele tentou lembrar o porquê de estar daquele jeito. Ele riu com cara de idiota, imaginando que assim que parou o caminhão ele devia ter catado a primeira puta que viu no motel e transado com ela até desmaiar. Só podia ter sido isso. Mas como era a puta? Ele tentou lembrar dela para se distrair da estrada.

Sim. Ela era bem gostosa. Tinha sido o melhor sexo da vida dele. Durou horas e mesmo assim ele não lembrava do rosto dela. Ele só lembrou que ela fumava. Sim ela fumava um charuto e ela tinha... Ela tinha uma barba?


Não! Não podia ser, não! A puta era um homem... Ela não tinha seios era um peito enorme e peludo. Ela tinha que ser uma baixinha bem magrinha, mas a memória de Bud só o traia porque ele conseguia imaginar apenas um homem alto gordo e peludo...E a bucetinha rosada era... era um pau gordo e grande cheio de veias.

Bud tentou apagar aquela imagem grotesca da cabeça. Mas foi inevitável... Ele não tinha comido uma puta o dia todo, ele que tinha sido a puta e agora as imagens daquele homem nojento fodendo com ele em várias posições diferentes se refletiam em seu para-brisas junto com as linhas da estrada elas iam em sua direção e penetravam seu cérebro, infectando seus neurônios com toda aquela pouca vergonha.


O caminhoneiro tentava esquecer mas era impossível e quando ele fechava os olhos as imagens saltavam ainda mais vividas. A cada gozada que ele lembrava seu pau endurecia e gozava novamente, ali mesmo, na cabine do caminhão melando os bancos de couro, as janelas, o volante...

Então Bud se deu conta, ele estava sem roupas. Ele tinha saído nu do hotel e dirigido peladão até agora. Ele até tentou procurar o que vestir mas não conseguia largar o volante e o simples fato de olhar para baixo em busca de uma misera cueca fez com que ele fosse atingido no rosto por um poderoso jato do próprio sêmen.


“Eu sou seu balde de porra e te servir é o meu único prazer”, disse Bud de repente. Então ele reparou que ele tinha acabado de entender e repetir os chiados do rádio. Ele estava ouvindo aquilo há dias sem entender e agora aquelas palavras não saiam de sua cabeça e estupravam seus ouvidos várias e várias vezes.

As imagens em sua mente, as ilusões em seu para-brisas e retrovisores, o cheiro forte de sexo e a sensação de uma gosma que começava a escorrer lentamente do seu intestino, melando os bancos do caminhão deixaram claras para Bud que aquelas palavras eram verdadeiras.

Ele lutou por horas, tentando negar as lembranças, o fedor de sêmen, suas ereções e ejaculações bem como a frase que se repetia em sua cabeça. O caminhoneiro gritava e se contorcia como podia sem conseguir parar de dirigir até que viu a monotonia da estrada quebrada por um posto de gasolina.

Bud se livrou das amarras da perversão e aproveitou a oportunidade para dar um soco violento no rádio para que aquela mensagem estúpida parasse de repetir. Ele se limpou e se envolveu com a primeira toalha mofada que encontrou jogada na cabine. Ele precisava se recompor pois faltava bem pouco para chegar ao destino.


O caminhoneiro barbudo aproveitou a madrugada e foi rapidamente se lavar no banheiro do posto, enrolado na mesma toalha mofada do Mickey Mouse que tinha usado para se limpar. Ele catou umas roupas na parte traseira da cabine e se fosse rápido daria tempo de tomar um banho e se trocar e quem sabe até lavar aquela sujeira.



Mas assim que Bud entrou no banheiro o mesmo homem de suas lembranças se virou e balançou seu gordo pênis na direção de Bud. “Você chegou bem na hora de entregar a carga”, disse o gordão peludo. Em resposta, o caminhoneiro apenas deixou a toalha cair e ficou de quatro repetindo compassadamente “Eu sou seu balde de porra e te servir é o meu único prazer.”

Mestre Borges

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